Eu ou ele

A única coisa da qual me lembro, era de estar jogada pelo chão de um quarto vazio. Eu olhava sem cessar para o teto branco, que mais parecia querer me engolir. Minha respiração corria lentamente por aquele cômodo apavorante. Eu não me lembrava de nada e passei muito tempo ali forçando a memória. Aos poucos acho que fui recobrando a consciência e com ela veio as dores em todas as partes do corpo. Olhei para baixo e não via nada, além de uns sapatos masculinos cheios de poeira próximos a porta.

Tentei me levantar inúmeras vezes, mas meu corpo tendia para o chão, foi então que me lembrei de que havia perdido todas as minhas forças lutando contra aquele psicopata. Meu corpo estava coberto de arranhões e meu rosto repleto de sangue. Apertei uma de minhas mãos com a única força que me restara e senti que havia algo nela. Movi o pescoço para o lado direito e para baixo para ver o que era e então soltei um berro estridente, pois havia ali um pedaço de navalha repleto de sangue. Então entrei em pânico, tentei me mexer de um lado para o outro, tentei levantar, mover meus ombros, mexer meus dedos, pular fora daquele lugar, soltar a navalha, mas não consegui fazer nada.

Mais uma vez, inutilmente, quis levantar-me, mas nada. Olhei para o lado esquerdo e pude ver Frederick morto e tudo passou a fazer sentido. Tinha entregado meu coração e minha alma a um louco e não tive escolha depois de ter sido convencida a beber aquele maldito drink, ter entrado naquele maldito carro, naquela maldita noite. Recordo-me de estar feliz, afinal ele foi o único homem que me deu o amor do qual eu tanto precisava... Mas naquela maldita noite, naquele maldito quarto, só um poderia sobreviver: eu ou ele.